sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Um conto triste

Cada vez se estava a enterrar mais na lama pestilenta, no meio daqueles porcos todos, que se preparavam para a morder, vendo que esta já tinha perdido as forças para se defender de todos aqueles animais enloquecidos pela fome. Mas ainda teve um derradeiro laivo de força para conseguir chamar o seu companheiro de solidão, que mesmo sem acção varrado pela fome lá conseguiu ladrar e correr com os porcos de volta da sua amiga de sempre. Isa lá conseguiu levantar-se apoiando-se no lombo escanzelado do seu fiel amigo, as suas roupas todas rasgadas e molhadas estavam coladas ao corpo todo arrepiado devido a um brisa forte que se fazia sentir de noroeste. Isa caminhava lentemente para casa de cabeça pendida para a frente com os seus cabelos loiros todos esgranhados e sujos da lama do chiqueiro onde se deixou cair, a trás dela ia ficando um rasto de água lamacenta que escorria pelo seu corpo muito branco e magro. Sentou-se numa pedra junto à casa para descalçar as suas botas rotas de cabedal, que também estavam cheias de água, e que tiveram de ficar ao sol para poderem secar para que a Isa não tivesse de andar descalça pois era o único calçado que tinha. Foi obrigada a se despir ali para que suas roupas não infestassem a sua pequena divisão de quatro metros quadrados onde vivia com o seu cão. Correu descalça até um pequeno riacho onde lavou o seu desnudado corpo e as suas miseráveis roupas, voltou para casa para se limpar e deitar com o seu cão numa encherga tapada com uma manta toda rota.
Isa era uma criança de douze anos que servia um lavrador de muito mau génio e guardava os seus porcos, não tinha família, comia uma vez por dia e dividia a sua comida com o seu cão. Trabalhava todos os dias de manhã até à noite, saia logo cedo com os porcos e regressava à noite onde os guardava num chiqueiro imundo.
Tinha sido encontrada com poucos dias de vida pelo lavrador que a levou para casa e a criou sempre sem carinho e obrigando a triste criança a trabalhar assim que começou a andar. Não sabia ler nem nunca teve um brinquedo ou soube o que era brincar, o seu único amigo era o seu cão pinguinhas que tinha a sua idade e viveu sempre com ela.

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